quinta-feira, 14 de abril de 2022

Eles não querem parar a guerra Albano Nunes

 

Eles não querem parar a guerra

Albano Nunes

As po­tên­cias im­pe­ri­a­listas querem ir mais longe

Nas suas aná­lises do ca­pi­ta­lismo e da evo­lução da si­tu­ação in­ter­na­ci­onal, o PCP não terá acer­tado em tudo mas nunca se en­ganou no es­sen­cial. E o es­sen­cial em re­lação à guerra na Ucrânia re­side na pró­pria na­tu­reza agres­siva do im­pe­ri­a­lismo e quando, como su­blinha a Re­so­lução Po­lí­tica do XXI Con­gresso, «os sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios e agres­sivos do im­pe­ri­a­lismo apostam cres­cen­te­mente no fas­cismo e na guerra como “saída” para o apro­fun­da­mento da crise com que o ca­pi­ta­lismo se de­bate».

Os guar­diões do pen­sa­mento único ao ser­viço da es­tra­tégia de do­mínio mun­dial do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano ca­lu­niam e per­se­guem quem quer que pro­cure in­tro­duzir al­guma con­tex­tu­a­li­zação e ra­ci­o­na­li­dade na aná­lise dos trá­gicos acon­te­ci­mentos no Leste da Eu­ropa, so­bre­tudo se, como faz o PCP, aponta cla­ra­mente os EUA, a NATO e a União Eu­ro­peia como os prin­ci­pais res­pon­sá­veis.

A ver­dade é que os acon­te­ci­mentos estão a mos­trar a quem possa ver claro através da negra cor­tina de ma­ni­pu­lação me­diá­tica que aí está, que foi a ca­val­gada de ex­pansão da NATO e da UE para o Leste da Eu­ropa e as con­ti­nu­adas ame­aças e pro­vo­ca­ções à se­gu­rança da Fe­de­ração Russa que estão na origem da si­tu­ação a que se chegou. O im­pe­ri­a­lismo queria criar na Eu­ropa um grave foco de tensão e de guerra para dar co­ber­tura aos seus am­bi­ci­osos pro­jectos no plano po­lí­tico, eco­nó­mico e so­bre­tudo mi­litar, como se viu já no Con­selho Eu­ropeu de 24/​25 de Março em Bru­xelas (em que Biden par­ti­cipou!…) e se verá na Ci­meira da NATO de 29/​30 de Junho em Ma­drid, sem es­quecer o pe­ri­go­sís­simo salto mi­li­ta­rista da Ale­manha há muito em dis­cussão.

Mas tudo in­dica que as grandes po­tên­cias im­pe­ri­a­listas, agora (apa­ren­te­mente) unidas frente à «ameaça» russa, pre­tendem ir muito mais longe. Choram lá­grimas de cro­co­dilo pelo der­ra­ma­mento de sangue na Ucrânia mas lançam cada vez mais achas para a fo­gueira da guerra e tudo têm feito para im­pedir um cessar fogo e ne­go­ci­a­ções que po­nham fim ao con­flito e con­duzam a uma so­lução de se­gu­rança e paz du­ra­doura na Eu­ropa. Mul­ti­plicam-se acu­sa­ções e ame­aças in­cen­diá­rias. Pelo que afirmam, Jo­seph Biden, Jens Stol­tem­berg, Ur­sula von der Leyen ou Josep Bor­rell, querem que a guerra dure o mais pos­sível, «por muitos meses e até anos», se­gundo o Se­cre­tário-geral da NATO, pro­va­vel­mente a pensar também na Ásia.

É in­qui­e­tante que, na ânsia de criar di­fi­cul­dades às re­la­ções entre a Fe­de­ração Russa e a Re­pú­blica Po­pular da China, os EUA, a NATO e a UE se atrevam a exigir que o go­verno chinês acom­panhe a sua his­té­rica cam­panha de san­ções à Rússia, che­gando mesmo a ameaçá-la de me­didas de re­ta­li­ação. Mais in­qui­e­tante ainda é a es­ca­lada de con­fron­tação que está em de­sen­vol­vi­mento em re­lação a Taiwan, com o for­ne­ci­mento de ar­ma­mento ao go­verno de Taipé, a con­cen­tração de po­de­rosos meios mi­li­tares na re­gião, o apoio ex­plí­cito à «in­de­pen­dência» desta ilha chi­nesa em que se re­fu­giou o bando de Chiang Kai-shek der­ro­tado pela re­vo­lução. Lu­tando pelo fim da guerra na Ucrânia e por uma so­lução po­lí­tica que as­se­gure a se­gu­rança e uma paz justa e du­ra­doura na Eu­ropa, é ne­ces­sário per­ma­necer vi­gi­lante em re­lação à ofen­siva mi­li­ta­rista dos EUA e seus ali­ados – no­me­a­da­mente o Japão e a Aus­trália que acabam de par­ti­cipar numa reu­nião da pró­pria NATO – na re­gião Ásia-Pa­cí­fico.




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