Raul Luis Cunha - General
É PRECISO TER MUITA “LATA”…!
Os comentadores “tugas”, avençados pelos nossos media e pelas fundações pró-ocidente e outras que tais, gritam em uníssono:
- O malandro do Putin… um facínora… julga-se um novo czar… imperialista… saudosista soviético… malvado… etc. etc. Houve até um imbecil que alvitrou na SIC que o presidente russo deverá estar um pouco louco…!
O tal idiota (cheio de ideias) da SIC, que deve ter feito o curso de estado-maior no estrangeiro (e não me refiro ao nosso "brigadeiro"), além de despejar uma série de disparates sobre as forças e armamentos militares em confronto (falando inclusive nos tais dispositivos para lavar roupa) chegou a questionar porque haveria que evitar um genocídio, se este ainda não tinha ocorrido?
Como se pode ver, um verdadeiro exemplo da “genialidade” que grassa nas nossas TVs.
E, curiosamente, um dos avençados que está sempre repleto de informações, fotografias de satélite e opiniões, invariavelmente segundo a cartilha do serviço de informações do mesmo país, explicou mesmo que os ucranianos separatistas pró-russos são xenófobos e os outros são uns autênticos anjinhos (será que nunca queimaram vivos os seus opositores em Odessa e que foram estes que se imolaram pelo fogo?).
Habilidosamente ou, talvez mais provável, por pura ignorância, escamoteia-se muito da história e argumentos sobre o conflito na Ucrânia e os seus intervenientes, senão vejamos:
- Em 2014 e por comprovada influência dos EUA e UE foi levado a cabo um golpe de estado e derrubado o presidente legítimo pelas forças políticas que agora estão no poder e que incluem extremistas saudosistas nazis (os tais que queimam quem deles discorda).
- Uma das primeiras proezas dessa ralé foi publicar uma lei que retirava à língua russa o seu estatuto de uma das línguas oficiais (isto num país com 18% de russos e em que 30% da população tem o russo como 1ª língua e praticamente todos o conseguem falar).
- Devido ao comportamento destes novos governantes (o sucedido em Odessa, a questão da língua e as públicas ameaças à comunidade russa), aconteceu o fenómeno separatista na Crimeia e no Donbass, com a anexação da Crimeia pela Rússia. (de legalidade discutível, mas, de certo modo, justificável).
- Quando a tentativa de suprimir pela força o separatismo no Donbass fracassou, foram feitos os Acordos de Minsk, testemunhados pelos presidentes da França, Rússia e chanceler Alemã. Desses acordos só foi satisfeita a troca de prisioneiros e a Ucrânia nunca cumpriu o resto.
- Quando nova tentativa militar sobre os separatistas redundou num humilhante cerco de forças ucranianas, foram feitos os segundos acordos de Minsk, dos quais mais uma vez a Ucrânia só cumpriu na parte da troca de prisioneiros.
- Durante os 8 (oito) anos que se seguiram nunca a UE, Alemanha e França fizeram o mínimo esforço ou pressão para que os acordos de Minsk fossem cumpridos pela parte do governo da Ucrânia.
Agora, já todos choram e arrepelam os cabelos pelo cumprimento desses acordos, que até este momento só a Rússia insistia na sua satisfação.
- No verão de 2021, as forças armadas ucranianas, após intensificarem imenso o seu treino e melhorarem consideravelmente o seu arsenal bélico, começaram a reforçar os elementos frente aos separatistas, nomeadamente com artilharia pesada e helicópteros e iniciaram ações de jamming dos drones da missão de verificação do cessar-fogo da OSCE, de modo a que estes não pudessem controlar as suas inconformidades com os acordos.
- Face ao renovar da ameaça às zonas separatistas e à possibilidade de um genocídio da população russa daquelas regiões, por parte dos elementos nazis das forças militares e paramilitares da Ucrânia, a Rússia concentrou um forte dispositivo militar na sua fronteira com essas regiões, para dissuadir as intenções da Ucrânia.
- É neste momento que os EUA aproveitam para, tirando partido desta situação, promover a escalada do conflito com as suas informações alarmistas (fez-me lembrar o que se passou antes da 2ª guerra do Golfo) e se possível o seu desencadear, de forma a obter uma importantíssima vitória geoestratégica, concretizada no momento em que o presidente russo caiu na armadilha e reconheceu a independência das zonas separatistas.
Assim e no meu entender, podemos desde já concluir o seguinte:
- A potência vitoriosa é os Estados Unidos que, para já, consegue o cancelamento do Nord stream 2, vende imenso material militar, passará a ser o grande fornecedor de gás líquido à Europa (o que constituía uma sua necessidade absoluta), aproxima ainda mais a sua fronteira militar da Rússia, etc. etc.
- O maior perdedor é, sem dúvida, a Ucrânia que ficará definitivamente sem uma parte do seu território (talvez uma grande parte) e população, além de ficar completamente arruinada economicamente. Outro grande perdedor é a Rússia, quer economicamente, quer em termos de prestígio e importância, ficando agora dependente de um eventual e oneroso apoio da China, a qual, como tem vindo ultimamente a ser o seu hábito, só teve a ganhar com isto tudo.
- Em termos da Europa (bem definida por um amigo meu como o apanha-bolas deste jogo) pode-se dizer que também perde imenso (perderemos nós todos, em particular os mais desfavorecidos), sobretudo a Alemanha, e só se salvará com algum lucro a Polónia, que espera vir passar a ser o hub de fornecimento do gás líquido americano para quase toda a Europa, colmatando, com vantagem, a perda das tarifas que cobra pela passagem do gás russo.
Não posso deixar de me referir aos sentimentos que me provocaram as reações públicas dos líderes ocidentais (incluindo da OTAN) ao reconhecimento da independência das regiões separatistas pelo presidente russo: Aqueles biltres, que depois de bombardearem um país soberano (a Sérvia) sem um mandato da ONU e depois de forçarem a separação de uma província (o Kosovo) desse país, se apressaram a reconhecer essa independência, abrindo assim o precedente que bem tentaram dizer que não o era, demonstraram assim e agora as suas verdadeiras características: imoralidade, incoerência, hipocrisia, ignomínia, torpeza e uma absoluta “cara de pau”… de facto, é preciso ter muita “lata”…! E o mais vil e nojento é indiscutivelmente o Sr. Biden, que em 1999 andava a gritar por toda a América: “Bombardeie-se a Sérvia!”
Muito tristes as prestações dos líderes do nosso cantinho: o presidente, que é supostamente professor catedrático de direito, debitou um perfeito disparate jurídico ao criticar a Rússia por não cumprir os acordos de Minsk (idem o 1º ministro) – desde quando uma das testemunhas e não um dos acordantes, tem responsabilidades pelo seu não cumprimento? De novo, que dizer então da França e Alemanha, que em 8 anos nada fizeram em relação aos mesmos? Outra grande desilusão foi o MNE, que eu até respeitava, mas que cujas declarações e postura mais pareciam de um dos “falcões” de Washington…
(talvez também queira ir perorar para uma universidade dos States…)
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