Pese embora a completa irresponsabilidade, para usar palavras doces - gente com experiência militar, chocados, usam mesmo a palavra "criminoso", nas nossas TVs - , dos líderes da UE e a reboque os seus media estarem a mobilizar populações civis, jovens rapazes, para irem combater o exército russo - numa missão completamente suicida contra um exército imperial, com armas nucleares, vemos filas de km e testemunhos de milhares de ucranianos jovens que querem sair do país e estão impedidos sob pena de prisão pela lei de recrutamento; outros que compram saídas ilegais escondidos em ambulâncias, etc.
Passou despercebida a entrevista do jovem português, que conseguiu passar a fronteira da Roménia e disse que os homens ficam horas à espera e quando chegam à fronteira são impedidos de fugir, de sair, ficam a chorar, e vão as crianças e mulheres em pranto. Citei. Estes milhares de homens, a fugir da guerra, não têm direito a existir na guerra da contra informação.
A narrativa é outra, todos querem, dizem-nos, ir combater pela "pátria". E quem não for, pergunto eu, é um traidor? Onde que eu já ouvi isto no século XX? Os Estados a provocarem e embarcarem em guerras e depois fazerem apelos patrióticos - que apenas mobilizam, sempre, uma infima parte da população, o restante vai obrigado no serviço militar obrigatório e na conscrição. Como alguém dizia por aqui - estão convencidos que isto é um jogo de paintball?
Os ucranianos têm o direito a ser recebidos por nós, ajudados, esperamos que não usados como mão de obra barata neste jogo "do nada se perde" com a tragédia alheia, devem ser protegidos, não podem - é ignóbil - ser impelidos e obrigados a suicidar-se contra o exército russo. A invasão russa é inaceitável, mas ver o nosso governo e parte dos nossos media a embarcar nisto quando a os EUA, que são de facto a NATO, puseram-se ao fresco (nunca serei a favor da NATO ou de uma resposta militar desta, mas que provocaram e foram tomar um chá, eclipsando-se, é evidente), a UE não existe militarmente, na dúvida finge-se que isto é a guerra civil espanhola e recruta-se civis, sem qualquer experiência na guerra, incapazes de se defender, para fingir que isto não é o que é - uma invasão russa, que só poderia ser parada com uma 3ª guerra mundial, que nenhum lider europeu diz querer mas todos parecem provocar.
Perguntam-me o que fazemos nós, gente de esquerda, internacionalista, que não acredita em fronteiras e guerras entre gente que vive do trabalho? Que desejamos que ucranianos e russos se unam no espírito internacionalista? Fazemos pouco, ou nada. Estamos impotentes - a esquerda, os seus partidos e sindicatos, estão impotentes, desorganizados, incapazes de agir no mundo a ruir à nossa frente, e há muito. Qual é a solução para a nossa impotência? Mandar miúdos de 18 anos para a frente, apelando a sentimentos nacionalistas, ou defender uma guerra mundial, que é de facto o que defende quem vai para a rua gritar por uma intervenção da NATO? Nada disto é solução, tenham juízo, ninguém mandaria um filho, quanto mais sem experiência militar, contra o exército russo, deixem quem quer sair que o faça, sim, deixem os homens fugir da guerra (ou só as mulheres é que podem fazê-lo?), exilar-se, que a resistência seja feita em segurança, mas sem baixas ignóbeis que só servem para acalmar consciências pesadas. Isto não é um jogo de vídeo, são vidas, de civis, homens. Como é possível termos chegado ao século XXI e ver os líderes europeus, entre chás e reuniões, de regresso à suas casas seguras ao fim do dia, com os seus filhos protegidos, estarem a apoiar qualquer mobilização obrigatória - de civis! ou de serviço militar obrigatório - para uma guerra?
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