segunda-feira, 30 de maio de 2022

HANÔVER - A FEIRA DO ADEUS? Hanôver — a cerimónia da despedida por Carlos Matos Gomes

 

HANÔVER - A FEIRA DO ADEUS?
Hanôver — a cerimónia da despedida
por Carlos Matos Gomes
Wrap up — as reuniões (os meetings) da Europa terminam habitualmente com uma cerimónia de despedida — uns copos, umas tapas e umas palavras de circunstância — que se designa wrap up.
António Costa vai à Hannover Messe a maior feira de tecnologia industrial do mundo, em que que Portugal será, pela primeira vez, país parceiro. Não é difícil ser suficientemente realista para considerar que vai a uma wrap up pelo papel que a Alemanha desempenhou na Europa e no mundo após o final da Segunda Guerra.
A Feira de Hanôver realiza-se desde o fim da II Guerra Mundial e a sua importância acompanhou o papel da Alemanha como locomotiva europeia e grande potência industrial. Este papel deve-se a condições de organização interna da Alemanha (RFA e depois unificada), à opção pela indústria pesada e pelos produtos de alto valor acrescentado, mas também à sua localização geográfica, no centro da Europa, fazendo de placa giratória entre a Europa Ocidental e a Oriental.
A Europa do pós-guerra assentou numa parceria franco-alemã. Em que, de forma muito simples, a Alemanha fazia de formiga e a França de cigarra. Após o fim da Guerra Fria a Alemanha também tomou os novos países “democráticos” do Leste a seu cargo, em particular a Polónia. Em parte o sucesso e o vigor da Alemanha deve-se a uma relação de mútuas vantagens com a Rússia, que fornecia a energia para a Alemanha a baixo custo e também matérias-primas essenciais, materiais ferrosos e cereais. A Alemanha é (era) o maior parceiro da UE com a Rússia (o maior investidor), a Rússia fornecia 41% do gás e 34% do petróleo. O novo gasoduto Nordstream permitiria a Alemanha importar gás da Rússia sem passar pela Ucrânia, nem pela Polónia, nem pelos Estados Bálticos (curiosamente os mais agressivos contra a Rússia).
A guerra da Ucrânia destruiu esta estratégia alemã e russa de criar um novo espaço económico e político no centro da Europa, entre a China e os Estados Unidos. Só motivos exteriores muito fortes podem justificar a intervenção — a invasão — da Rússia na Ucrânia e a morte no ovo desta nova entidade. Esta guerra só aproveita aos Estados Unidos e, por tabela, à China. Cherchez la femme.
A Ucrânia, os ucranianos, estão a pagar com a sua própria destruição a destruição da Alemanha e até da França — o eixo franco-alemão que foi o pilar da EU — como atores relevantes no mundo no médio-prazo. Os oligarcas ucranianos e a sua marioneta serviram e estão a servir de quinta coluna para entregarem a soberania do seu povo e do seu território. A intensidade da campanha de manipulação na comunicação social a que assistimos revela a dimensão do logro de que a invasão da Ucrânia resultou de um espasmo do maldito Putin a que os ucranianos estão a resistir heroicamente! (Estão a ser sacrificados!)
Esta Feira de Hanôver como a maior feira industrial mundial será, infelizmente e com elevada probabilidade, uma das últimas, isto porque a Alemanha, sem energia barata, ameaçada a Este e Oeste, vai deixar de ser o dínamo que produzia riqueza para a Europa, vai deixar de ser competitiva com a China ou com a Índia.
O afundamento da Alemanha arrastará o da França e o de toda a Europa Ocidental, Itália incluída. A destruição do modo de viver europeu (o estado de bem-estar) causará inevitáveis convulsões sociais em toda a Europa.
Não deixa de ser surpreendente que os mesmos políticos que se deslocam a Hanôver de sorrisos de orelha a orelha e os empresários que os acompanham sejam os mesmos que estão a destruir (ou já destruíram) as bases em que assentou a elevação de Hanôver a maior feira industrial do mundo. Portugal foi convidado para a cerimónia que nas celebrações europeias se designa como wrap up, a da despedida. Presumo que para a próxima será convidada a Polónia… o novo estado vassalo dos EUA na região.
Vitor Mineu, Carolina Soares Brandão e 26 outras pessoas
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Mais relevantes

  • Adams Pires
    UE locomotiva da Europa??? Andava de empurrão dos restantes países?
    Pode ser uma imagem de texto que diz "KODAK 5005 EPP KODAK 5005 top Europa. Alemanha recebeu quase um quarto dos apoios à banca Ajudas públicas totalizaram 592 mil milhões de euros entre 2008 e 2012"
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  • Pode ser uma imagem de ‎1 pessoa e ‎texto que diz "‎Dא 52 mins Diário de Notícias o economista, que trabalhou com Durão Barroso, diz esperar que a Atenas chegue a acordo com os credores. orcouncil rope fit for the future "Schäuble está a mentir: os empréstimos à Grécia foram um resgate aos bancos alemães" Ao DN, o economista que trabalhou com Durão Barroso, como conselheiro, diz esperar que a Atenas chegue a acordo com os credores e avisa para as... BILL PIRRY DN.PT BY GLOBAL MEDIA GROUP Uma Página Numa Rede Social‎"‎‎
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    • Joao Barbosa
      Adams Pires obviamente. Eram os grandes credores. Goldman Sachs a principal responsável pela hecatombe grega ao manipular as contas públicas
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  • Pode ser uma imagem de texto que diz "SABIA QUE QUASE METADE DO EMPRÉSTIMO DA TROIKA E SÓ PARA JUROS E COMISSÕES? VALOR DO EMPRÉSTIMO 78.000.000.000 44,10% JUROS E COMISSÕES 34.400. 000 VALOR REAL 43.600.000.000 000RS 0000N Kapopn BILL PIRRY ASSIM AJUDA FMI SAIR DA CRISE!!! "AJUDAS PAÍSES EUROPEUS AUMENTAM LUCROS DO FMI EM 63%" SOL, ABRIL DE 2011"
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  • Pode ser uma imagem de 5 pessoas e texto
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  • Elias Richau
    Estão a Caminho do suicídio, como escolha...
  • Jose Monteiro
    Vou deixar para os especialistas as questões que tanta celeuma criaram à volta do papel da Alemanha no descalabro da União Europeia e que parece estar a voltar à tona de água com novos fatores introduzidos pelo texto inicial e que me deixou completamente baldeado e desfasado! Mas não me posso nem quero queixar e muito menos acusar-me de distração!
    Não consigo imaginar uma Alemanha ( único país da Europa que visitei a convite e acidentalmente o Luxemburgo) e seu gigantismo industrial de há décadas, ser passado a um mero atrelado dos que ela ajudou (por conveniência, claro) a desenvolver tecnologicamente!
    Vamos ver no que vai dar toda esta balbúrdia! Vou tentar aguentar até que as águas se acalmem um pouco!

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