Reconstruir a Ucrânia ou ressuscitar monstros?
Estava a passar pelos noticiários das TV nacionais. Num, o primeiro-ministro português falava a partir de Kiev na “reconstrução” da Ucrânia, e da sua entrada na União Europeia. Noutro, um friso de senhores e senhoras, que me pareceram gente com lugar no Parlamento Europeu, perorava sobre a “reconstrução da Ucrânia”. Reconheci o deputado Paulo Rangel. Defendia que a Ucrânia devia entrar rapidamente na UE por questões geoestratégicas, mesmo que não cumprisse as regras do clube. Cito de cor: ” Serve-nos, quero lá saber do cadastro dos tipos que dirigem o país!” — já assim geria os seus complacentes princípios ao passear-se com um tal Guaidó, escolhido pelos Estados Unidos para presidente da Venezuela! Seguindo o pragmatismo de Rangel em termos estratégicos, porque não admitir Marrocos na UE que fornece limões, pistácios e caracóis? Ou a Argélia, que fornece gás? Ou a Mauritânia, que fornece peixe? Mistérios da estratégia de Rangel!
Ao lado de Rangel, um senhor de cabelo ralo e de barba, de que não retive o nome, falava sobre a “reconstrução” da Ucrânia. “Há que reconstruir a Ucrânia, refazer a Ucrânia!” (e porque não, também o Afeganistão? Ou a Líbia? Ou o Iraque? Ou a Palestina? Ou o Líbano?) Surgiu depois o que julgo ser o deputado Rui Tavares: “Há que admitir a Ucrânia na UE, mas não na NATO!” Ninguém lhe perguntou porque será que uma Ucrânia aberta a todas as exigências, onde os Estados Unidos e a UE já investiram biliões no armamento e na formação de militares para servir de base da NATO, deve ser menos que a Finlândia e a Suécia, que têm forças armadas respeitadoras do poder político e que colocam condições, nomeadamente a recusa de instalação de bases NATO e já causaram perturbações com a Turquia? A Ucrânia para NATO, já! E ninguém fala mais dos curdos, que não são estratégicos!
A palavra mágica dos políticos europeus é “reconstrução”! Mas reconstruir o quê? A Ucrânia de 2004, dos oligarcas, da corrupção generalizada, da ditadura imposta por um exército nazificado e desde há muito treinado pelos Estados Unidos e a Inglaterra sob a chancela da NATO, na confissão do secretário-geral? A Ucrânia do golpe da praça de Maidan de 2014, a Ucrânia que proibiu os partidos políticos, que chacinou as populações russas do Donbass?
Reconstrução da Ucrânia antes de investigar o que fez a oligarquia da Ucrânia, agora representada por Zelenski, dos biliões que a União Europeia e os Estados ali meteram? É essa “elite” predadora de dinheiro europeu que vai ser reconstruída e é a essa gente cleptocrata que vai ser entregue o dinheiro da reconstrução? Não haverá antes qualquer investigação ao destino dos milhões entregues aos oligarcas que Zelenski representa?
A Ucrânia de antes da invasão russa de Fevereiro, se tinha alguma comparação com algum Estado no planeta seria com a Birmânia/Myanmar, em que um ator popular foi escolhido para figura de cartaz. É este o regime da Ucrânia que os políticos europeus querem “reconstruir”?
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