quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

SOBRE A UCRÂNIA: um texto do José Pedro Rodrigues , por Maria de Fátima Rosa...

 

SOBRE A UCRÂNIA:
um texto do José Pedro Rodrigues
"O acordo de Minsk que em 2015 pôs fim ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia (no período que se seguiu ao golpe de Estado de 2014) não viu um único passo no combinado reconhecimento da autonomia alargada das regiões de Donetsk e Lugansk.
No impasse que avoluma rapidamente tensões, Moscovo tem sido muito visitada. O Presidente Macron diz não querer um conflito e defende um novo acordo, um Minsk II, o Presidente alemão diz não querer um conflito e está preocupado que o gás não deixe de bombar, o Presidente americano jura ao telefone que não quer a guerra (onde já se viu tal coisa dos americanos andarem aí em guerras…) mas pelo sim pelo não… (que surpresa).
É difícil imaginar que possa haver um acordo Minsk II quando o Presidente ucraniano já declarou não ter disponibilidade para cumprir com o acordo inicial e quando admite o rearmamento nuclear.
A crise profunda em que está mergulhada a sociedade ucraniana não pode ser desligada das consequências do golpe de Estado que permitiu a ascensão da extrema-direita cujos braços para-militares nazis, como o Batalhão Azov, ganharam honras de instituição e foram incorporados nos ramos especiais das forças armadas daquele País.
No ocidente da Ucrânia recupera-se orgulhosamente as imagens de Stepan Bandera, assassino de judeus, e dos seus acólitos, colaboracionistas nazis.
Na parte oriental, no Donbass, e na Crimeia, respira-se a história de sacrifício dos que viveram e morreram a derrotar os nazis. Muitos destes ucranianos são filhos e netos dos que lutaram nas fileiras do Exército Vermelho.
Pode dar-se muitas voltas a este tema, a este conflito, às cores com que se pinta, aos directos da frente e das traseiras da batalha, mas não se pode esconder a história o tempo todo.
Não é por acaso que na Ucrânia nunca foi conduzida nenhuma investigação séria aos nazis ucranianos acusados de crimes de guerra e Holocausto. Quem o afirmou, em 2011, foi o Centro Simon Wiesenthal. Não é por acaso que no Centro de Combate ao Terrorismo em West Point (EUA) se investiga a “Globalização da Extrema-direita” (2021) e a relação entre os neo-nazis ucranianos, os voluntários alemães e outros “militantes” fascistas europeus que germinam e treinam na Ucrânia pós-2014. Não é por acaso que as autoridades “democráticas” ilegalizaram em 2015 o Partido Comunista da Ucrânia.
Quem olhar atentamente para a realidade ucraniana verá uma clivagem crescente e talvez insanável. Deste retrato não se podem agora excluir os políticos europeus e americanos que patrocinaram o golpe de Maidan e abriram a porta a este drama. Um drama que pode até ter ganho recentemente honras de noticiário mas que de 2014 até há poucas semanas conheceu episódios de silenciosa barbárie não podem nunca ser esquecidos.
Em Odessa, cidade ucraniana na costa do Mar Negro, logo depois do golpe de 2014, trinta pessoas foram queimadas vivas na Casa Sindical, que resistia a um ataque da extrema-direita. Estes crimes também nunca foram investigados. O acordo de paz de Minsk fez-se em cima deste sangue mas na Ucrânia nunca ninguém olhou para ele como um instrumento para honrar a paz ou sarar feridas.
Durante a hora de almoço tive oportunidade de assistir à reunião do Conselho de Segurança da Federação Russa. Em cima da mesa esteve o reconhecimento da independência das auto-proclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, que pode ser anunciado em breve.
O caminho do diálogo ainda não gelou.
Mas está frio. Muito frio. E os russos dificilmente permitirão que os fascistas façam em Donbass o que fizeram em Odessa."
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