José Monteiro
03/01/2021. 18.20 h.
Não por que seja segredo: No Verão Quente de 75 os distúrbios na cidade de Leiria começaram no final de uma procissão, convocada pelo sr. bispo de Leiria, que partiria, após a cerimónia da Sé e respetiva prédica, para percorrer umas quantas ruas bem definidas, como se fosse a caminhada para o monte do calvário, de modo a passar e quase exorcizar os locais a abater: a sede do MDP/CDE era mesmo em frente à Sé Catedral, no 1º andar, que era também o escritório do falecido dr. José Guarda Ribeiro e depois da voltinha passar em frente do escritório do dr. José Henriques Vareda, um palacete antigo que em 1977 passou a ser o Centro de Trabalho do PCP e hoje os laboratórios da CEDILE! Tudo foi sendo desbaratado pela turba ululante e já pelo0 fim da tarde foi iniciado o cerco do então Centro de Trabalho, onde foi a Casa Fabião, a principal casa de Fotografia e venda de equipamentos que entretanto tinha mudado para a Praça Rodrigues Lobo! Uma cadeia de televisão cujo nome não fixei, instalou o seu projetor e câmara no muro da margem direita do Rio Lis, no recanto que ainda hoje faz com a entrada do antigo Parque da Cidade, hoje do Avião, por terem lá colocado um velho avião da Força Aérea! Eram muitas centenas de pessoas de um lado e outro do rio, gritavam morte aos comunistas e outras palavras de ordem de menos importância! Eram os 2 agentes da televisão quem, por sinais, comandava as ondas: ora passando a luz do projetor a rasar o pessoal e terminava a volta fixando a entrada e fachada do Centro de Trabalho! Como trabalhava na Marinha Grande e só ao fim do dia regressava casa, a maioria dos sitiantes não me conhecia, nem da cidade eram e alguns da cidade conheciam-me e respeitavam-me desde os meus tempos de Tribunal, de 64 a 70! Andava no meio deles com a segurança de quem nada teme! Depois de ver o formato da criação da onda cheguei até junto dos 2 homens da TV e aí tive de decidir: - fingir uma queda e atirar para o rio, que estava cheio, a pouca ferramenta que não passava de 2 tripés, mais os seus operadores! E de imediato pensei: se os atiro para o rio o mais certo é ficarem lá, já que não havia bombeiros perto e corajosos que se atirassem ao também não me pareceu que houvesse! O Centro de Trabalho só foi invadido pelos militares, no dia seguinte e para dispersar a turba ainda dispararam tiros para o ar e um ricochete de bala veio a atingir uma senhora que nada tinha a ver com a confusão e que passava junto da fonte das 3 bicas, abaixo do nível das águas do rio e cerca de 200 m do Centro de Trabalho! Se não tivesse passado os 6 anos na investigação criminal no Tribunal de Leiria e antes não tivesse feito parte da guerra de Angola de61 a63, de certeza que tinha metido no rio os TV's e nem sequer simulava queda para parecer acidente! Ainda hoje há camaradas que acham que os devia ter metido no rio e outros acham que fiz bem não o ter feito! Isto tem a ver com o debate João Ferreira-André Ventura há pouco tratado! Bom ano e tudo de bom para todos!
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