Obrigado Miguel Szymanski donde copiei esta postagem
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de Helena Pato
31 de dezembro de 2020 às 21:46
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Não que seja muito grave. Não é. Mas perceberão que eu nunca votaria neste cidadão. Porque votar em Marcelo é um bocadinho votar em Marcello.
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Ainda não era PR, Marcelo teve um arrepio de saudades e escreveu sobre o passado. A ternura, o elogio, a admiração, a amizade, a família, a Mocidade Portuguesa, a lua de mel, as colónias, a conferência de S. Vicente de Paulo, os pobrezinhos, coitadinhos _ oh recordações e mais recordações! oh que saudades! Numa evocação, Marcelo, agradece, eleva o pensamento para o seu amigo e mestre Marcello, e para nós tudo fica mais clarinho:, isto é: «Oh que pena terem apeado o Marcello ( com 2 LL)!»
Oh eleição de 2021! Oh 25 Abril! Oh que raio!
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Oh pra ele:
«Evocar Marcello Caetano é, antes do mais, recordar o homem e o amigo de minha família, desde o final dos anos 30 do século passado. O homem. Impoluto no carácter, determinado na personalidade, austero, aparentemente distante e frio, inteligência rigorosa e metódica, grande sistematizador e expositor, cultura clássica e moderna sólida, de claro pendor francófono, facilidade e recorte estilístico na escrita. Na intimidade, ainda, afectivo e atencioso, muitas vezes nos mais pequenos pormenores. Sempre de uma persistência (aqui e ali talvez teimosia) de um critério meticuloso no trabalho, de um sentido de responsabilidade pessoal, cristã e cívica marcada por uma educação conscienciosa, uma carreira inicial a pulso, uma militância católica e de serviço comunitário (de que a Conferência de S. Vicente de Paulo foi exemplo), marcada pela doutrina social da Igreja e o neotomismo. O amigo de família desde o final dos anos 30. Mestre de vida e superior do meu pai. Na Mocidade Portuguesa, onde o teve como colaborador e ajudante de campo até 1944. No Ministério das Colónias, onde beneficiou do seu secretariado até 1947. Novamente, conselheiro no Governo, nos anos 60, Marcelo Caetano como ministro da Presidência, meu pai como subsecretário de Estado da Educação Nacional. Ou, no início dos anos 70, Marcello Caetano presidente do Conselho de Ministros e meu pai ministro de várias pastas. E, antes e para além de tudo isto, com sua mulher, a inexcedível Teresa Barros, filha do escritor e pedagogo liberal João de Barros, padrinhos de casamento de meus pais (em 1947), seus filhos Ana Maria e Miguel padrinhos de meu irmão Pedro, em 1955, e eu próprio devendo-lhe o nome, apesar de Marcello Caetano ter entendido que o padrinho deveria ser da geração do pai e não mais velho do que ele (escolhendo Camilo de Mendonça). Como não lembrar a narrativa que me chegou da lua-de-mel de meus pais em S. Martinho com carro emprestado pelos padrinhos, os sucessivos Natais na velha casa junto ao Camões, os passeios na Quinta do Linhó, as sugestões dadas no liceu, a apreciação de trabalho do 5° ano sobre a Constituição Francesa de 1791, as obras oferecidas estimulando (e pesando decisivamente) na ida para Direito, os sábados à tarde na Choupana (entre 1960 e 1966, ouvindo, a sua tertúlia política), o rigor com que impôs o afastamento da Choupana e do convívio pessoal enquanto fui seu aluno (de 1966 a 1968), o modo paternal como me acolheu em jantares semanais entre 1968 e 1970, na ausência moçambicana de meus pais? São centenas de episódios ou histórias familiares, que continuaram no Brasil, onde, no Rio de janeiro, Marcello Caetano conviveu com meus pais e meu irmão Pedro, e de onde respondeu a cartas minhas até à sua morte, em 1979.»
[ Expresso. 28/11/2008]
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