sábado, 23 de janeiro de 2021

Texto de Vicente Alves do Ó, partilhado por Luis Branquinho Pinto +apont. meu

 

«A parte mais triste destes tempos que vivemos é descobrir pessoas, amigos, pessoas com quem cresci, que fizeram e fazem parte da minha vida, dizer por aqui coisas que me deixam no chão. Não sei que fazer. Abandono-os? Discuto com eles? Como? Como se chama à razão uma pessoa que acredita num homem como trump ou num homem como andré ventura? Que caminho fizemos para chegar a um ponto onde se coloca em causa a democracia, o cuidado pelos mais frágeis, o dever pela liberdade, pela ética? Como se faz? Apaga-se da vida e do facebook? Ignora-se? Ainda estamos a discutir política ou estamos numa crise profunda de carácter? Estamos assim tão egoístas que consideramos a morte e o mal dos outros? Como é possível acreditar em homens que mentem sem vergonha? Como se luta contra a mentira quando a mentira alimenta a esperança traiçoeira dessa gente? Estamos doentes? Se calhar estamos doentes. Dificilmente o meu apelo será atendido, mas, no domingo, vão votar, votem, votem acima de tudo pela democracia. Podemos não ter o país perfeito, nem os políticos perfeitos, mas colocar em causa a constituição e aquilo que nos protege a todos, é jogar fora a luta de tantos anos e tantas vidas, pela liberdade que conquistámos.»
- Vicente Alves Do Ó
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  • belo e verdadeiro texto,,,,eu fui um,dos que lutei pela liberdade,,
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  • Um abraço
     amigo é o populismo as badanas que não sabem pensar por elas
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  • Devem ser muitos os que estão a descer, sem canoa protegida, os rápidos deste rio caudaloso de montanha!
    Eu sou um deles! Por vezes não tenho a paciência e a diplomacia que devia e ataco, sem cuidar da linguagem, que sempre costumo usar!
    Se calhar erro, mas ao cabo de tantas décadas a ouvir, como se de um relógio de cuco se tratasse, as mesmas velhas e requentadas palavras, mesmo que a história e os factos as tenha reduzido a pó há dezenas de anos, destranco e digo, como disse a alguém que já nem o nome recordo,
    "para quê dar trela ao cão que não anda ?!"
    e outras parecidas, ficando depois a pensar se valeu a pena violar hábitos de linguagem que sempre cultivei, com alguém que apenas sabe repetir o eco das palavras dos outros!
    Rodeiam-me, tenho que conviver com eles, fazem parte da parte feia e menos construtiva da minha vida, eu próprio os adoptei!
    Vamos resistir como outros o fizeram, muitas vezes sob desumanas formas de tortura, mas não falaram, não acusaram nem denunciaram!
    A luta pelos ideais que defendemos vai continuar e o dia chegará em que os provocadores vão dizer para si: CHEGA, eles são o que eu nunca conseguirei ser!
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Carta de Luis Osório dirigida a Jerónimo de Sousa + nota minha e foto

 

Obrigada
Luís Osório
.
POSTAL DO DIA
Carta ao “meu” avô Jerónimo
1.
Caro Jerónimo
Escrevo-lhe esta carta para lhe dizer que seria uma honra poder chamar-lhe pai ou avô.
Uma honra poder dizer ao mundo que o meu sangue era o seu. Que dentro de mim existia alguma coisa de si.
Talvez a coragem.
Talvez a capacidade de sorrir com a bondade dos seus olhos.
Talvez a força das suas mãos de operário.
Talvez o modo como faz acreditar os outros, como se empenha, como se atravessa contra as injustiças.
2.
Não era preciso escrever esta carta.
O que aconteceu, o que foi dito naquele debate por aquela gente que se alimenta do ódio e do ressentimento, por aquele homem ignóbil, acredito que não o influenciou em nada – como poderia?
Ainda assim, Jerónimo…
Como lhe dizer?
Entristeceu-me ouvir.
Fiquei com vergonha por eles. Pelos que aplaudem, pelos urros animalescos, por todo aquele circo.
Não tinha de me dar ao trabalho pois sei que não vale a pena. Mesmo assim quero contar-lhe do orgulho de o ter conhecido.
Do orgulho por perceber que o modo como abraça é genuíno. Ou o modo como abraça sem abraçar. Ou a forma como consegue ouvir os que não pensam como o senhor ou o partido, pela capacidade de fazer pontes sem nunca perder a face, pela tranquilidade com que continua na primeira linha entre os que combatem pelo bem dos mais pobres, dos mais explorados, dos excluídos.
3.
Jerónimo
Nada me faria melhor do que poder dizer ao mundo que no meu Cartão de Cidadão estava o seu apelido.
A sua força.
O seu sofrimento.
Não por não ter orgulho nos meus, mas pela oportunidade de pertença a uma casta do que não torcem.
Com um bocadinho de queijo e um bocadinho de vinho deixaríamos a conversa correr. As minhas perguntas e as suas respostas.
Por isso, os insultos que lhe fizeram naquele comício de extrema-direita, o que aquele canalha disse de si, só fortaleceu a convicção de que vale a pena o combate por uma ideia de bem e de decência.
Jerónimo, um abraço.
Encontramo-nos brevemente.
Luis Osório
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  • Apenas um aplauso ao autor de tão deliciosa carta ao "avô" Jerónimo e um abraço a ambos remetente e destinatário! Não precisa ser enviada por correio azul!
    Obrigado por existirem ambos!

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3643467435698904&set=p.3643467435698904&type=3&av=100001070491744&eav=AfZbiLkTnGnxVhmyhUnHBqka8zGSgzkKFvA5XLg8-xoCBrlSxOuKqfv6TqgRDQUZp60&__cft__[0]=AZVcRmRINn96G3JNO-N00aqvjjQTgKFEWB20Vz_4SEPWHakSErpVC12W37kKTrtdusrJvgTOQpbI2rJRRha6EYI23unvij_sK7GxEuepqD0sod6HMe0j2IKkX46qVJg1bhn6rKy78uVgtuHaxwLQC1aiY3QO5q64Y_x4tnqx4_Ch0A&__tn__=R]-R
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