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Deixo lágrimas por nossa irmã África.
LÍDERES AFRICANOS ASSASSINADOS E DERRUBADOS PELAS FORÇAS DO IMPERIALISMO MUNDIAL
Actualmente quando se leva a cabo uma abordagem afrocentrada sobre diversos aspectos ligados à realidade politica, económica, social ou cultural africana, é comum a existência pessoas, que vestidas de uma aura eurocêntrica muito forte, auto-ódio desmedido ou simplesmente indiferença para com a realidade actual africana, colocar em causa a existência de uma mão invisível para quem anda a margem dos meandros da História de África e visível para quem possui o mínimo de consciência histórica, do papel desempenhado pelas forças do imperialismo no sentido de bloquear qualquer tentativa dos países africanos trilharem a marcha para o progresso e autonomia total com relação ao ocidente. Para muitos, quando se aborda sobre tais questões simplesmente afirmam tratar-se de vitimismo e discursos xenófobos.
Sendo assim, no presente artigo abordaremos de forma sucinta a influência do Ocidente na morte e queda dos líderes nacionalistas e panafricanistas que muito tinham a oferecer para a África, dessa forma condicionarem o desenvolvimento do continente por meio da cooptação e instrumentalização de novas lideranças que servem como marionetes programadas e agendes ao serviço dos interesses imperialistas em território africano.
Entre 1957, data da independência do Gana e 1987, data do assassinato do último dirigente panafricanista, Thomas Sankara 35 dirigentes africanos nacionalistas e panafricanistas foram assassinados. Esses líderes insubstituíveis em sua maioria, foram ultimados directamente pelas potências ocidentais ou através de seus lacaios locais. Ou seja, nas primeiras 3 décadas da descolonização, o continente africano perdeu seus mais importantes e talentosos líderes; estes foram substituídos por dirigentes politicamente inexpressivos a serviço das grandes potências imperiais do planeta.
Eis uma lista parcial das grandes figuras africanas, homens e mulheres que foram assassinados por defenderem a causa justa da emancipação total dos africanos:
1957- Dedam Kimathi (Kénya); 1958- Ruben Um Niobi (Camarões); 1959- Barthelemy Boganda (RCA); 1960- Felix-Rolant Moumié (Camarões); 1961- Jean Pierre Finant (Congo); 1961- Joseph Okito (RDC); 1961- Maurice Mpolo (RDC); 1961- Patrice Lumumba (RDC); 1963- Sylvanus Olympio (Togo); 1965- Pio Gama Pinto (Quénia); 1965- Mehdi Ben Barka (Marrocos); 1966- Ossende Afana (Camarões); 1968- Pierre Mulele (Congo); 1969- Eduardo Mondlane (Moçambique); 1971- Ernest Ouandié (Camarões); 1972- Jean Baptiste Ikoko (Congo Brazaville); 1973- Outel Bono (Chade); 1973- Amilcar Cabral (Guiné Bissau/Cabo Verde); 1974- Onkgopotse Tiro (África do Sul); 1975- Herbert Chitepo (Zâmbia); 1975- Josiah Kariuki (Quênia); 1976- Murtala Mohamed (Nigéria); 1977- Steve Biko (África do sul); 1977- Modibo Keita (Mali); 1981- Joe Gqab (África do Sul); 1982- Ruth First (África do Sul); 1983- Attati Mpakati (Zimbabwe); 1986- Samora Machel (Moçambique); 1987- Thomas Sankara (Burkina Faso);
COMO FORAM MORTOS ALGUNS LÍDERES PANAFRICANISTAS?
- Felix-Roulant Moumiè: Grande líder, importante pensador e teórico panafricanista, dirigente da União das Populações dos Camarões (UPC), foi assassinado com veneno tálio em um hotel em Genebra Suíça, pela "Mão Vermelha", uma secção do serviço de inteligência da França que se encarregava na época do extermínio dos dirigentes nacionalistas africanos nas colonias francesas.
- Patrice Lumumba: Primeiro ministro do Congo (ex Zaíre) assassinado em um complô urdido pelos Estados Unidos, a Bélgica e a França, foi executado em Katanga sob ordens directas do coronel Joseph Desire Mobutu, marionete dos Estados Unidos e da - Bélgica e aos cuidados dos traidores Moise Tchombe e Godefroid Munongo. Junto com Lumumba, foram assassinados Maurice Mplolo e Joseph Okito. Jean Pierre Finant, que fora capturado, Okito e Mpolo, seria executado separadamente na região do Kassai pelo fantoche Albert Kalonji
- Eduardo Mondlane: Presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), assassinado pelo serviço de inteligência de Portugal (PIDE), com uma bomba.
- Outel Bono: Grande dirigente Panafricanista da República do Chade, assassinado em plena Paris com duas balas no peito pelo serviço de inteligência da França (SDECE), que anteriormente executara Felix-Roulant Moumiè, líder panafricanista do Camarões e tivera participação na morte de Lumumba
- Amílcar Cabral: Grande líder panafricanista da Guiné Bissau, líder do Partido para Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), assassinado pelo serviço de inteligência de Portugal (PIDE), utilizando-se de traidores do próprio movimento.
- Murtala Mohamed: Líder populista e anti-colonialista, era presidente da Nigéria, quando fora assassinado segundo parece, pelos serviços secretos dos EUA (CIA) e da Grã-Bretanha (MI5), utilizando-se de traidores dentro do seu próprio governo.
- Steve Biko: Militante Panafricanista da África do Sul, foi assassinado durante a sua detenção, pelo governo do Apartheid. Foi um dos mais importantes líderes do continente africano e o fundador da filosofia da Consciência Negra.
- Modibo Keita: Grande panafricanista maliano, foi eliminado por um golpe de estado promovido pela França, através do general Moussa Traoré, por sua vez, foi ordenado à morte por crimes políticos, por roubo e corrupção massiva, mas perdoado pelo seu sucessor Alpha Omar Konaré, um dos grandes articuladores do chamado renascimento africano.
- Thomas Sankara: Primeiro-ministro revolucionário e Anti-Imperialista do Burkina Faso, foi assassinado a tiros em sua própria residência pelo actual, Blaise Campaoré, presumivelmente sob as ordens do governo francês, contra a qual Sankara estava em luta aberta.
- Lembrar que Kwame Nkrumah então presidente do Gana e líder panafricanista foi derrubado do poder em 1966 por intermédio de um golpe de estado patrocinado pela CIA, pela França e pela Inglaterra.
Ainda assim é lícito afirmar que o ocidente nada tem a ver com o subdesenvolvimento de África? Problemas como corrupção, pobreza extrema, nepotismo, banditismo, usura, peculato, analfabetismo, deficiente acesso à educação, sistema de saúde deplorável, etc são comuns em África mas quem financia as campanhas de presidentes africanos que reduzem milhões de pessoas à condições tão deploráveis?
Como um país consegue se reerguer tão facilmente com o assassinato de lideranças talentosas, brilhantes e com sentido de estado inquestionável? Quem é culpado afinal, aquele lacaio de desvia o erário público depositando em contas na Suíça ou aquele que mesmo sabendo que tais saques jogarão milhões à miséria mas ainda assim os financia e os aplaude nas sombras dos grandes gabinetes de poder e decisão? Factos são factos e estes têm sido evidentes, só não vê quem simplesmente não quer fazê-lo.
Como seria África de Kwame Nkrumah não fosse deposto e assassinado, Lumumba não fosse assassinado, Sankara não fosse assassinado, Bartelemy Boganda não fosse assassinado, Amed Sekou Touré não fosse assassinado, Amilcar Cabral não fosse assassinado… como seria?
Fontes:
Carlos Moore; A África que Incomoda: Sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro (2010)
Walter Rodney; Como a Europa Subdesenvolveu a África (1975)
Compilado por Eremita
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