Tita Alvarez está com Luis M. Loureiro.
Isto sim, é jornalismo a sério! Isto sim é jornalismo de investigação!
|| O Mentiroso e o Coxo ||
O ditado está errado.
No tempo acelerado, fragmentário e ruidoso em que vivemos, é muito mais difícil apanhar um mentiroso do que um coxo.
Porque o tempo é acelerado, o mentiroso tem melhores competências para fazer com que a mentira se escape. Ela tem pernas para fugir, mesmo que sejam curtas.
Porque o tempo é fragmentário, a verdade dificilmente sobrevive onde só apanhamos pedaços desconexos do real, e onde é sempre ao último e mais recente pedaço que nos é mostrado, que agarramos a vista. A verdade, pelo contrário, é intrinsecamente íntegra, precisa de ser procurada para poder ser encontrada. A verdade não é o que se vê, é o que é.
E porque o tempo é ruidoso, nunca resistimos à tentação de, no ruído, nos ouvirmos primeiro a nós mesmos. É muito mais fácil e tranquilizador ouvirmos o eco que confirma aquilo em que queremos acreditar, do que instalarmos o incómodo da dúvida na nossa cabeça.
Assim, entre aceleração, fragmentação e ruído, somos presas fáceis da mentira. Qualquer charlatão nos apanha na curva e nos dá boleia.
Este (link abaixo) é o vídeo que todos devíamos ver antes de corrermos a afixar fotos e bandeiras gastas (trabalhadas convenientemente para voltarem a ser-nos mostradas, pelo algoritmo, no momento "certo") nos nossos perfis, situação a que seria bom que nos pudéssemos poupar.
E o que nos mostra este vídeo?
Mostra-nos o que achamos que já vimos, mas não vimos. Porque nos mostraram o começo de uma coisa quando ela já tinha começado. Porque nos mostraram a luta depois da provocação para a luta, porque nos mostraram os ânimos exaltados depois da exaltação dos ânimos.
Vendo estes cinquenta minutos desde o verdadeiro início da coisa, perceberemos melhor como é que se chegou ao seu final.
Além deste vídeo, trago ainda quatro recortes: três de fotografias de Volodymyr Zelensky, já presidente da Ucrânia, mas ainda sem a barba da guerra, durante uma cerimónia de troca de prisioneiros da guerra civil que então decorria no Donbass, que deu cumprimento a um acordo feito entre a Ucrânia, a Rússia e os movimentos separatistas de Donetsk e Lugansk. O último recorte é de um comunicado oficial do próprio gabinete de Zelensky, que refere a conclusão da terceira e ultima fase do acordo de troca de prisioneiros, feito em 2019, com a participação da Rússia.
Retirei todos os recortes de uma investigação jornalística de "fact-checking" partilhada há algumas horas pelo jornalista de investigação canadiano, Aaron Maté.
E o que tem a ver isto com o vídeo de cinquenta minutos da desgraçada conferência de imprensa conjunta na Sala Oval, da última sexta-feira? Veja-se o que Zelensky diz sobre este exacto assunto, na cara de Trump, de JD Vance, de diplomatas dos dois países e de jornalistas de todo o mundo, depois de passar 40 minutos a dizer que o presidente russo, Vladimir Putin, não é homem com quem se possa negociar, porque não cumpre o que assina, ou seja depois de passar 40 minutos a questionar, na cara dos seus anfitriões, toda e qualquer tentativa de resolução diplomática da guerra na Ucrânia.
Se quiserem mesmo saber como é que se provoca alguém para um combate, usando a mentira como gatilho, e ainda se consegue sair dele como vítima, têm aqui um belo guião.
TEXTO EDITADO A 4/03/2025
(ver nota explicativa na linha de comentários)
(por Luis M. Loureiro)
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