quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O nazismo ucraniano reanimado e agora democrático — uma velha história (Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 24/08/2024)

 

O nazismo ucraniano reanimado e agora democrático — uma velha história

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 24/08/2024)


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Estava a ver na SIC Notícias um programa de catequese a propósito guerra na Ucrânia. Não refiro os intervenientes por não serem relevantes. Os catequistas repetem o catecismo. E o catecismo é que na Ucrânia se está a defender a democracia, a liberdade. São catequistas de leituras recentes.

O nazismo na Ucrânia é tão antigo foi tão violento como o da Alemanha. Não consta que o nazismo tivesse defendido a democracia e a liberdade… Mas é o que corre por aí.

O nazismo ucraniano nasceu com o nazismo e sobreviveu ao nazismo. Eu conheço as técnicas de contrapropaganda e de propaganda negra. Uma delas é descredibilizar os que desmontam as verdades convenientes. Quanto à Ucrânia todos os que afirmam e demonstram que o regime de Zelenski foi criado pelos Estados Unidos dentro da sua estratégia de domínio da Eurásia e levado a cabo por uma sua funcionária superior Vitória Nuland (Fuck EU) que organizou a revolta da Praça Maidan, tendo como tropa de choque os grupos nazis que nunca desapareceram são apresentados como putinistas. Assim como os que afirmam que o Estado de Israel é terrorista e sionista e que o seu objetivo é eliminar todos os palestinianos são expostos como antissemitas.

Um velho livro que encontrei nas minhas desarrumações, L’ Orquestre Noir, de Frédéric Laurent, antigo jornalista do Libération, editado em 1978, quando não havia Putin, mas Brejnev, não existia a Rússia, mas a União Soviética, contém um capitulo dedicado à extrema direita europeia e ao modo como os aliados recuperaram os nazis ucranianos, trazendo-os para a Alemanha para integrarem os seus serviços de informações e os exércitos secretos para combater a então União Soviética.

“ Imediatamente após o final da Segunda Guerra, com a intenção de evitar a propaganda e as infiltrações comunistas nos campos de refugiados da Áustria e da Alemanha onde se encontravam milhões de pessoas, os serviços de contraespionagem dos Estados Unidos recrutaram em 1946 os efetivos da Organização dos Nacionalistas Ucranianos para controlar e eventualmente liquidar suspeitos. Esta ação recebeu o nome de código de Operação Ohio.

Quem eram os novos defensores do Mundo Livre? Um grupo de extremistas criado em 1929 e que desde 1938 colaborava com os nazis. Tinha feito parte em 1941 de dois batalhões ucranianos « Nachtingale » e «Roland» que sob o comando da Wehrmacht desempenharam um papel importante na invasão da União Soviética. Distinguiram-se por numerosos massacres de judeus e comunistas.

Será com a mesma eficácia com que haviam servido os nazis que os membros da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (Organisation of Ukrainian Nationalists (OUN)) vão cumprir as missões atribuídas pelos americanos, eliminando os seus adversários tidos por progressistas, incluindo moderados julgados como tendo ideias progressistas. Estas eliminações eram sobretudo realizadas pela Sluzhba Bespeky (SB), a polícia secreta da OUN que tinha uma organização idêntica aos serviços de segurança nazis.

A ligação entre os americanos e a SB foi estabelecida pelo capelão do batalhão Nachtingale, de nome Ivan Grinyokh, condecorado com a Cruz de Ferro nazi e que havia trabalhado para a Gestapo.

Segundo uma investigação realizada pelo jornal nova-iorquino Daily News, estima-se entre quinhentos e os dois mil os criminosos de guerra europeus. Joshua Eileberg, ao tempo presidente da subcomissão da imigração da Câmara de Representantes explicou a impunidade que gozaram nos Estados Unidos: «O serviço de imigração e o Ministério da Justiça, de que depende, interessavam-se principalmente pelos comunistas e também não queríamos criar conflitos com a Alemanha que fornecera os criminosos que haviam tomado parte nos genocídios sem precedentes na história.» Outra das razões para impunidade dos nazis é que muitos destes criminosos de guerra eram utilizados durante a guerra fria pelos serviços secretos americanos, como Edgar Laipeniks, antigo agente letão que a CIA empregou nos anos 60, ou Vilis Haznurs, acusado de ter massacrado centenas de judeus em Riga, em 1941 e que a CIA empregou nas emissões da Rádio Livre…

A Operação Ohio ilustra uma das principais razões pela qual o fascismo não se extinguiu com o nazismo. Como candidamente revela a história oficial do Pentágono: «Apesar de isso não aparecer nas diretivas oficiais, o serviço de contra espionagem das forças armadas dos Estados Unidos compreendeu rapidamente que a sua missão primária de desnazificação seria substituído pelo problema soviético.» Em menos de um ano aqueles que tinham sido os primeiros a descobrir o horror dos campos de concentração integravam a seu lado os autores, os nazis e os fascistas contra os soviéticos .

Esta inversão de situações enquadrava-se na prioridade de Winston Churchill (que apenas se preocupara com o nazismo como ameaça de ataque a Inglaterra e jamais com a sua ideologia racista e totalitária — que ele saudou como um bom sistema em conversações com Mussolini — ao cunhar a expressão «Cortina de Ferro», que era de facto um ameaça ao capitalismo, à desigualdade social, o regime de privilégios, o sistema financeiro dominado pelo FED, a Reserva Federal Americana e o dólar.

O nazismo ucraniano é antigo e persistente, está impregnado na sociedade e no aparelho de Estado e veio à superfície logo que os Estados Unidos criaram as condições para que ele se pudesse manifestar, criando um veiculo que foi Zelenski. O processo de recuperação dos nazis ucranianos para a “nova democracia” amiga do Ocidente, candidata à NATO e à União Europeia segue exatamente o mesmo caminho o aproveitamento dos nazis como agentes contra os inimigos russos que foi percorrido logo após o final da Segunda Guerra. A questão não é pois a de defesa de liberdade e democracia, é de ter tropas sem escrúpulos para executar ações criminosas à margem do controlo das opiniões públicas e sem legitimidade que os Estados entendem levar a cabo.

Para os que lêem francês aqui ficam os scans de algumas paginas. A propósito, o diabo não diabo por ser mau, é por ser velho. A históroa que sai das máquinas da Bimby não sabe de onde vêem as coisas e por isso as apresenta como novidades acabadas de cozinhar.

3 pensamentos sobre “O nazismo ucraniano reanimado e agora democrático — uma velha história

  1. Muito bem o que escreveu. O Padre Patrick Desbois tem um excecional livro sobre esses assassinos. Assim como o centro eclesiástico em Paris que dirige. São vários os autores que fizeram livros sobres estes nazis. Apenas um nome, Danielle Rozenberg.

  2. Na verdade muita gente nos Estados Unidos compartilhava os ideais nazistas, do racismo ao anticomunismo.
    Nos Estados Unidos, em boa parte dos Estados um negro poderia ser enforcado por simplesmente olhar para uma mulher branca.
    O próprio Obama chegou a dizer que nalguns estados não teria nascido pois que o pai seria enforcado por simplesmente olhar para a mãe.
    Os nazis eram reconhecidos como uma gente capaz de por as raças inferiores no seu lugar, bem como os trabalhadores. Sabiam também livrar se de “baratas” como os comunistas.
    Não tinham nada contra a propriedade privada desde que estivesse nas maos das raças superiores. Ou seja, a raça branca.
    A grande ameaça para eles era efectivamente a União Soviética comunista e não o nazismo.
    Daí os acordos feitos com Hitler até permitiram a ocupação da Checoeslovaquia e mais tarde a anexação da Áustria.
    Ate ao início da guerra poucos eram os que falavam da repressão que acompanhou ambas as ocupações.
    Mesmo na Áustria, onde muita gente apoiava efectivamente a anexação, dois por cento da população adulta do país foi presa nos primeiros dias.
    Se Hitler se tivesse limitado a começar por invadir a
    União Soviética e nunca se tivesse virado contra os vizinhos ocidentais todos colaborariam no ataque a União Soviética.
    Destruída a União Soviética não seria necessário Israel para desestabilizar o Médio Oriente.
    A população judaica seria morta ou reduzida a uns quantos escravos em todo o lado.
    Em todo o lado os doentes e considerados imprestáveis seriam mortos.
    Com o tempo deixavam se disso de democracia. Para que eleições, servem para gastar dinheiro.
    O problema de Hitler foi a demasiada ambição.
    Mas claro que não foi difícil para esta gente que na realidade sempre viu muitas semelhanças com o nazismo reabilitar esta gente.
    Pelo que agora até acham normal continuar o apoio a um traste que se apoia em nazis e se recusa a fazer eleições.
    Vão ver se o mar da megalodonte.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

João Gomes 4 h · E Tudo o Vento Levará...

 

E Tudo o Vento Levará...
Valerá a pena comentar diariamente a evolução do que é uma "guerra de atrito" entre duas grandes superpotências, uma apoiada na NATO e nos seus satélites ocidentais e a outra dependendo particularmente de si própria e dos seus aliados estratégicos - alguns fronteiriços, outros meramente geo-politicos e com interesses económicos objetivos?
A guerra na Ucrânia foi um conflito iniciado para durar meses e que resolveria as divergências politicas de Donbass entre o regime incumpridor ucraniano, os independentistas e a Rússia - defensora acérrima dos seus direitos de defesa fronteiriço (perante o que se sabia objetivamente do "Plano NATO") e em que os EUA aproveitaram para promover aquilo que estava previsto no Projeto da RAND para inverter a politica da Rússia e, por essa via, dividi-la em pedaços territoriais, no futuro, provocar convulsões internas no seu seio étnico e criar várias nações no imenso território da Rússia que - como a Geórgia, a Moldova, a Lituânia e alguns outros - fossem dominados pelas politicas neo-liberais do capitalismo ocidental, prometessem a "democracia colorida" aos povos dessas regiões e eliminassem a força conjunta da Rússia - provocando a pressão, ao mesmo tempo, sobre outros dos seus parceiros estratégicos, como a China, o Irão e a própria Turquia.
Nesse sentido os EUA, usando a NATO e os seus satélites europeus, avançou para a "guerra de atrito" usando o território da Ucrânia - objetivando usar esta como a "Mão de Ferro" ou o "Cavalo de Troia" para atingir os objetivos referidos. O conflito breve transformou-se, assim, em conflito permanente, e assim continuará até um dos lados considerar que os recursos empregues estão em vias de se esgotar. Tendencialmente há a noção de que - quando uma nação defende o seu território - e falamos aqui da Rússia - os recursos levam mais tempo a esgotar-se, pois os objetivos consignados na defesa pátria, económicos e financeiros poderão ir até ás últimas consequências. Isso já aconteceu no passado e é isso que a História nos conta.
A Ucrânia, por si só, há muito tempo esgotou os seus recursos pátrios, económicos e financeiros e apenas permanece no seu papel de representante do ocidente porque este lhe fornece as armas, os meios económicos e os financiamentos para se aguentar. Se não fosse isso o conflito teria sido resolvido no final de 2022. Mas isso não interessava para o "projeto ocidental dos EUA/NATO" nem para um conjunto de dirigentes europeus perfeitamente conciliados com os mesmos objetivos referidos, por interesses pessoais e politicos e, também, porque os seus projetos pessoais de vida passam pelas instituições que lhes podem alimentar o futuro: Blackrock, Golden Sachs, Banco Mundial, FMI, etc.
Neste sentido a guerra irá prosseguindo até que se esgotem as condições ocidentais para sustentar as necessidades ucranianas, seja através de ações militares desesperadas e com recurso á milicia estrangeira contratada, seja pelo esgotar dos equipamentos de guerra que talvez venham a fazer posteriormente falta ao ocidente na eventualidade deste conflito se alargar para a Europa - desejo que não se reconhece ser russo mas que é constantemente reafirmado pelo dirigismo europeu como justificativa das suas medidas.
Com a ação militar a Kursk a Ucrânia não resolve nenhum dos seus principais problemas: a retomada da Crimeia, Donbass, Lugansk, Zaporozhye ou Kherson. Com a ação militar a Kursk a Ucrânia apenas aumenta os seus problemas militares, usa e abusa dos melhores recursos militares que lhe foram oferecidos pelo ocidente e recua cada vez mais quilómetros nas áreas que ainda tinha capacidade de defender desde que o conflito se iniciou em 2014, porque este não é um conflito de 2022.
As populações ocidentais vêem, assim, que as decisões da maior parte dos governos europeus não correspondem nem a projetos de paz, nem à tentativa de solução dos seus vários problemas de diferente natureza: trabalho, habitação, melhor economia, melhor vida social, desenvolvimento na modernização dos seus recursos, melhor equilíbrio fiscal entre classes, etc.. Infelizmente a tendência popular é atribuir as culpas destas situações à "democracia" escolhendo depois caminhos ínvios e escolhas que promovem partidos menos democráticos para as fileiras dos seus representantes. Em Portugal já se fala em leis que reduzam a emigração ao "essencial" quando o objetivo é racista, xenófobo e colocar o país numa situação de falta de mão de obra para, de seguida, promover a privatização de tudo o que é necessário para atender as populações. Tem sido esse o "regime" das escolhas dos últimos governos e nem este, nem o próximo, recuperará a ideia de que é possível uma gestão pública eficaz no que significa o "bem público".
Portanto, vamos continuar a assistir ás opiniões de especialistas de todos os lados, uns defendendo a "dama" que lhe paga os comentários na televisão e jornais e pretende alinhar-se com a falácia ocidental de que se vai "derrotar a Rússia" e estes especialistas que "vivem por dentro" a realidade que alguns de nós sentimos através de canais mais independentes e isentos. Que ninguém espere o fim da guerra para o fim do ano ou para o ano seguinte: esta é uma guerra de atrito e só terminará quando um dos lados estiver demasiado gasto para aguentar a sua continuidade. Tudo indica que será o ocidente, com elevados custos para os cidadãos omissos que colocam as bandeirinhas da Ucrânia no perfil ou violentam os "putinistas" que comentam, sem perceber que nem se trata de símbolos, nem de escolhas politicas: trata-se de observar a realidade da geo-politica que vai gerindo o Mundo enquanto ele existir.
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