domingo, 28 de agosto de 2022

Carlos Matos Gomes Carlos Matos Gomes 25 de agosto · 5 minutos de leitura

 

Assim o quiseste, assim o tiveste — o preço a energia

Os agentes de comunicação de massas são uma verdade. Essa verdade tem consequências que inicialmente um fazedor. Agora, os mesmos que apoiam como averiguam e os embargos perguntam políticos o que vão fazer. É hipocrisia em estado puro. Os assim designados jornalistas são cúmplices da situação que estamos e vamos viver.

Os jornalistas têm responsabilidades sociais. Não podem atirar a pedra e esconder a mão.

Digámos. Assim começava um dos televangelis contratados para formatar a opinião pública para das intenções expansionistas da Rússia as suas prédicas diárias. Era necessário formar opinião à de que a Ucrânia é pacífica e democrática, um Estado exemplar que de um momento para outro, e sem qualquer motivo, se vê invadido uma decisão pelo vizinho.

Houve alguns, poucos, que se atrasaram a desmascarar esta história de cobertura de intenções. Os grandes meios de manipulação estão com fervor militante contra a tese da iníqua e criminosa invasão, que contrariava os princípios do Direito Internacional e até a doutrina da guerra de Santo Agostinho.

Sabe-se hoje pela voz da administração americana e do governo do Reino Unido que os americanos e ingleses, com a cobertura da OTAN (essa virtuosa aliança segura) andavam com a dieta do exército ucraniano desde 2004, com maior intensidade a partir de 2014, que lhe (recebido material moderno e apoio de informações intelligence), incluindo via satélite. Um efeito foi instalado especialmente na zona russa do Leste da Ucrânia criado especialmente para cerca de 14 mil mortos. O novo governo pró-americano da Ucrânia, que tinha como figura de boca de cena Zelenski, foi incentivado a provocar a Rússia com um pedido de adesão à OTAN. O que tinha previsto que não aconteceria e que Moscovo a 10 minutos de novos voos não aconteceria. Isto é, a capital da Rússia ficou dentro do teatro de combate e sem possibilidades de defesa!

A guerra da comunicação, uma vitória estrondosa empenhada com o entusiástico contamento dos jornalistas, há que reconhecê-lo: as opiniões públicas aceitam as teses americanas e as lições da doutora Ursula Van der Leyen. Esta vitória da manipulação foi feita como públicas para a fase: houve que castigar os russos seguintes pelo atrevimento de não querem um vizinho que subalugava o seu território para todas as implantações de armas contra si. Saíram as conhecidas — em pacotes! — seis pacotes, meia dúzia. quem, de mão a bom, tivesse avisado que fariam sentido como provavelmente fariam tiros nos pés, teve ricochete. Foram acusados ​​de putinistas.

Os dirigentes europeus anunciam o seu grande objetivo: a independência da Rússia. O jornalista se atreverá a nenhum perguntar de quem, a Europa, não possuir grandes recursos energéticos. Ficaram em respeitoso silencia e seguiram de capacete e colete (PRESS) como pequenos rafeiros os guias na Ucrânia eles mostramvam casas destruídas, ruas com corpos, desgraças de todos os conflitos, cultivando em várias partes do mundo que mesma hora, na Palestina, na Palestina Eritreia, na Nigéria, no Haiti, até nas favelas do Brasil, ou nas dos Estados Unidos (sim, há favelas nos EUA).

Os dirigentes europeus transferem dinheiro dinheiro no grupo de dinheiro, de um dirigente que sabiam ser do mundo dinheiro. De repente ficou com o cadastro limpo e até com certificado de bom comportamento. Quem está preso é o Assange.

Os dirigentes europeus sabiam das causas da invasão. Sabiam que estavam a lidar com um homem de mão dos EUA, sabiam que a maioria das notícias sobre a guerra eram mentira, ou deturpações. Casos dos massacres de civis — que foram apelidados de genocídios. Caso da central de AZOV, caso agora da central nuclear. A tecnologia disponível hoje permite saber a marca dos cigarros que um condutor vai a fumar, a 50 km de distância. Sabe-se através de infra-estruturas onde todas as aeronaves e peças de arte. Os dirigentes europeus têm toda a informação e mentem, ou serão lançados como mentiras que os serviços de propaganda de Kiev, da OTAN, ou do que fazem injetam nas redações. Algumas das reportagens já veem pré-editadas, não vão o apresentador esquecer-se de algum detalhe.

As publicações foram devidamente hipnotizadas. Pintaram caras de azul e amarelo, até votaram numa cançoneta só porque era dos pobres de Zelenski. Arrancar os cabelos. E a unanimidade não a divisões civilizacionais e políticas observadas. A esquerda europeia amigou-se com Boris Johnson, com Ursula van Der Leyen, com o Beato Presidente da Polónia, com Biden. Quem não se dobrava diante das charlas de Zelenski (se repararem os seus técnicos de imagem filmam o comediante de baixo para cima parra parecer que ele fala de cima para. Truques de sucesso) era banido e execrado.

Mas chegou a hora de pagar tanta bondade, tanto ucranianismo, tanto zelenkismo. E aqui é que a porca torce o rabo. A energia vai subir entre 30 e 40 por cento. E energia são combustíveis e gás para refeições, o banho, ou o pão. Mas somos independentes da energia da Rússia! Isso é que é importante. Mas somos dependentes do petróleo e do gás americano obtido através do caríssimo processo do fracking e que tem de ser transportado de barco através do Atlântico, ou comprá-lo como petrolíferas que dominam a Arábia Saudita e o Médio Oriente e os estados vassalos dos EUA. Mas estamos no mundo livre. Embora só tenhamos um fornecedor de energia e uma fonte de verdade.

Os agentes de ação psicológica (APsic) de serviço nas redações, jornalistas, assim ditos, interrogam o governo e por agora surpreendidos por causa do governo não tomar medidas o preço! Abençoada hipocrisia. O governo, todos os governos europeus tomaram as decisões que revisaram a esta situação. Os ditos jornalistas que andaram pela Ucrânia, ou por Bruxelas, sabiam que este seria o resultado, ou então ainda são mais lidos do que parecem quando perguntam com um olhar espantado: e agora, senhor ministro? O senhor não sabe produzir gás a pataco? Bilhas milagrosas como a lâmpada de Aladino? Não nos aconselhamos a mudar de eletrônica, como fez a senhora Van der Leyen?

De facto, os governos europeus tomaram como medidas que estruturam a esta situação. Alguns, certos, confirmaram que como eles eram pensados ​​ou, certamente, iriam se identificar ao desastre que já eram pensados. Putinistas. Vamos quebrar a espinha aos russos. Nem hambúrgueres vão comer! (Nem nós, pelos vistos).

A Europa está livre da dependência da Rússia. Aleluia! Vamos alegrar-nos, ou não? Foi esta a cama que é executada, é nela que nos vamos deitar. Os jornalistas são parte do coro. São cúmplices da situação. Nada de queixumes.

Por fim, não há nada que possa alterar a situação: inflação galopante e esta situação. Os dirigentes europeus nem sequer são arte atuais para salvar a numa retirada com o mínimo de espécies (aprende-se no póquer, mas eles são mais de videojogos).

A situação ser caricaturada com o ministro português dos negócios pode ser estrangeiro: a Europa, através do Casão Militar fabricante de camuflados e quicos, fornece fardamentos aos soldados de Zelenski, os americanos. através de Biden, suporta mais três biliões de material militar. É esta oferta dos EUA que determina o preço da energia que os europeus vão pagar. Mas «os» e «as» televangelistas recrutados/as para os telejornais dirão que a culpa é, «digámos», do Bladimiro, como um deles trata o homem que fechou a do gás a pedido dos europeus, diga-se.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Carlos Matos Gomes Carlos Matos Gomes 4 de agosto · 4 minutos de leitura Das moscas do mercado

 

Das moscas do mercado

A União Europeia morreu e ninguém a informou José GoulãoJosé Goulão POR JOSÉ GOULÃO TERÇA, 02 DE AGOSTO DE 2022

 |UNIÃO EUROPEIA

A União Europeia morreu e ninguém a informou

A arrogância, o autoconvencimento suicida e a subserviência doentia dos dirigentes da União Europeia perante o diktat norte-americano transformou a guerra na Ucrânia no acontecimento fatal para a comunidade.

Mural anti-Nato por ocasião das eleições legislativas na Sérvia. Belgrado, 4 de Abril de 2022 
Mural anti-Nato por ocasião das eleições legislativas na Sérvia. Belgrado, 4 de Abril de 2022 CréditosANDREJ CUKIC / EPA

AEuropa Ocidental tem apenas mais 20 a 30 anos de democracia; depois disso deslizará sem motor e sem leme sob o mar envolvente da ditadura (…)
                      Willy Brandt, chanceler da República Federal da Alemanha, 1974

Willy Brandt, polémico mas suficientemente lúcido para não fechar pontes em plena guerra fria, era um estadista, espécie entretanto desaparecida como os dinossauros. Governou nos tempos em que se pensava existir uma coisa chamada «social-democracia», que durante as últimas décadas também «deslizou sem motor e sem leme» para a selvajaria neoliberal, a ditadura da economia sobre a política, passo decisivo para a extinção da democracia – como estamos a perceber.

Brandt não era um bruxo; limitou-se a reflectir sobre perspectivas a médio prazo com base na percepção, leitura objectiva das realidades, experiência e intuição que não lhe faltavam porque era um praticante de política, actividade que é um direito geral de cidadania entretanto «promovida» a uma espécie de «ciência oculta» actualmente apenas ao alcance de uma seita de predestinados com capacidade para governar, dominada pela arrogância, a frieza desumana, a irresponsabilidade e a mediocridade, particularidades afinal essenciais num regime autoritário.

«A guerra na Ucrânia, efectivamente travada entre a NATO e a Rússia, contribuiu para trazer à superfície os sinais inequívocos da ascensão da ideia de um mundo polifacetado no qual direitos nacionais plenos até agora violentamente reprimidos pelos poderes coloniais e imperiais do Ocidente se afirmam de modos bastante concretos, operacionais e explícitos. Esse é o combate existencial do nosso tempo»

As palavras do antigo chanceler alemão, proferidas pouco antes de deixar o cargo, projectam-se na actualidade de maneira tão evidente como inquietante. Acertam em cheio no «deslizamento» da Europa para a ditadura política, completando-se assim o cenário aberto pelo totalitarismo da economia (ditadura do mercado), embora mantendo aparências formais em matéria de direitos cívicos, entretanto ferozmente vigiados e combatidos passo-a-passo por meios antidemocráticos.

Esta Europa, desde que assumiu a forma dominante de União Europeia como expressão do poder oligárquico e braço político da NATO, reforça a visão etnocentrista de uma pax imperial assente em nações «aliadas» orientadas pelo dogma mítico segundo o qual a paz generalizada será encontrada como resultado final de múltiplas guerras «defensivas» e «humanitárias». O chamado Ocidente criará assim as condições propícias para a implantação do globalismo neoliberal, de preferência gerido por um governo único e obviamente totalitário tal como postulam há muito o veterano guru imperialista Henry Kissinger, o conspirativo Grupo de Bilderberg e mais recentemente o Fórum Económico Mundial, instrumento das oligarquias sem pátria que representam menos de um por cento da população mundial e dos expoentes políticos que as servem.

Os fundamentos deste modelo imperial pressupõem a continuação do funcionamento inquestionável de uma ordem unipolar mundial, ou «ordem internacional baseada em regras» dirigida de Washington e contornando o direito internacional reconhecido pela esmagadora maioria das nações do mundo. Para a garantir existem 800 bases militares norte-americanas distribuídas pelo mundo, reforçadas com o policiamento permanente dos mares, uma estrutura que tem um papel indispensável na pretendida «globalização da NATO».

«Daí os esforços necessários para criar e aproveitar cada oportunidade de paz. Embora a «paz» esteja proscrita e os seus defensores sejam olhados como perigosos dissidentes da narrativa única própria de uma ditadura como a que, há quase meio século, o ex-chanceler alemão Willy Brandt anteviu para a Europa»

Apesar disso, essa ordem sente-se ameaçada. A guerra na Ucrânia, efectivamente travada entre a NATO e a Rússia, contribuiu para trazer à superfície os sinais inequívocos da ascensão da ideia de um mundo polifacetado no qual direitos nacionais plenos até agora violentamente reprimidos pelos poderes coloniais e imperiais do Ocidente se afirmam de modos bastante concretos, operacionais e explícitos.

Esse é o combate existencial do nosso tempo, em que a ideia do «fim dos Estados-nação» de que se apropriou a oligarquia globalista sem pátria se confronta com a crescente afirmação de relações mais justas e igualitárias entre nações soberanas, independentemente dos seus sistemas políticos. E não, soberanismo não se confunde com nacionalismo e muito menos com populismo.

Como é próprio dos conflitos existenciais, sobretudo este que envolve capacidades e estratégias de extermínio global, a situação actual é aterradora. As declarações de um e outro lado encarando a hipótese «limitada» de recurso a esse tipo de armas revelam a irresponsabilidade, a inconsciência e até a loucura sociopata de quem as profere. Sabendo nós que não se trata de casos isolados e de simples ameaças, mas de balões de ensaio induzindo a ideia de que as partes em confronto estão indisponíveis para comprometer-se com a rejeição do uso desses «argumentos» fatais para a humanidade.

Daí os esforços necessários para criar e aproveitar cada oportunidade de paz. Embora a «paz» esteja proscrita e os seus defensores sejam olhados como perigosos dissidentes da narrativa única própria de uma ditadura como a que, há quase meio século, o ex-chanceler alemão Willy Brandt anteviu para a Europa.

As ditaduras, porém, são absolutistas mas não absolutas. Existem sempre meios de as driblar e derrotar se houver vontade e união para isso.

Soldados ucranianos com material de guerra enviado pelo Ocidente  CréditosEvgeniy Maloletka / slavyangrad.es

Salve-se quem puder

A primeira grande vítima do combate de âmbito global em curso é a União Europeia. Morreu, mas ninguém a informou disso. O seu monstruoso aparelho burocrático e autoritário em modo de realidade paralela funciona em piloto automático, agora definitivamente orientado de Washington, como intermediário privilegiado do tráfego – e tráfico – de armas para alimentar a guerra na Ucrânia; e também como esbirro federalista dos povos do continente às ordens da insaciável oligarquia neoliberal.

A União Europeia desapareceu enquanto comunidade com identidade própria, que nunca foi muita. Teve uma síncope na crise financeira de 2008, que procurou combater através da tortura de países governados por apátridas invertebrados e com recurso a instrumentos coloniais. Esteve novamente à beira da morte em 2019 com a hecatombe do pretenso combate colectivo contra a Covid, mais um episódio de salve-se quem puder, cada um por si. Não havendo duas sem três, a União Europeia finou-se agora devido ao comportamento na guerra da Ucrânia convertendo-se, sem reservas nem reticências e com muito afã, num indisfarçado instrumento de mão de Washington e numa ramificação menor da NATO. Já aplanara o caminho nessa direcção há oito anos, ao comparticipar na entronização golpista de um regime nazi em Kiev.

«A primeira grande vítima do combate de âmbito global em curso é a União Europeia. Morreu, mas ninguém a informou disso. O seu monstruoso aparelho burocrático e autoritário em modo de realidade paralela funciona em piloto automático, agora definitivamente orientado de Washington»

Hoje, o zombie da União Europeia já nem se debate no poço sem fundo em que caiu devido ao modo como abordou a questão ucraniana. A führer Van der Leyen, plagiadora da sua tese de medicina, eleita a pior ministra da Defesa de sempre na Alemanha e admiradora confessa de Erwin Rommel, marechal de campo de Hitler na sua conveniente vertente mítica «anti-III Reich», insiste em cumprir as ordens do decadente presidente Biden para liquidar os ucranianos e arrasar a Ucrânia. O seu escudeiro socialista Borrell, cada vez mais ridicularizado mas sempre perigoso, deveria fazer um voto de silêncio para não agravar ainda mais a situação.

É por estes caminhos que a Comissão Europeia, entidade não eleita que gere uma estrutura desumana e feroz sobretudo contra os mais desfavorecidos, caminha agora fantasmagoricamente – mas ainda e sempre cruel.

Aos Estados membros, liberais, iliberais ou assim-assim compete obedecer, esvaziar os arsenais de todas as armas e enviá-las para a Ucrânia, meter as mãos nos bolsos dos contribuintes para financiar com centenas de milhões de euros o corrupto e nazi Zelensky. Em contrapartida, devem obrigar os seus povos, através de mecanismos totalitários de manipulação, coacção e chantagem, a aceitar impavidamente os efeitos das sanções impostas à Rússia – ilegais segundo o direito internacional – enterrados numa crise em que o pior ainda está para vir. Willy Brandt sabia do que falava mesmo que os tempos e as circunstâncias fossem bastante diferentes da realidade actual. Certamente porque os traços desviantes em relação ao discurso oficial, a hipocrisia e o cinismo enganador dos povos já então se manifestavam como tendências que são intemporais.

«A guerra e a maneira etnocêntrica, xenófoba e mistificadora como a União Europeia a encarou impondo sanções arbitrárias à Rússia, obedecendo a Washington convencida de que o mundo «iria atrás», funcionou apenas, afinal, dentro dos 27 e no universo muito limitado de países que compõem o chamado Ocidente»

A arrogância, o autoconvencimento suicida e a subserviência doentia dos dirigentes da União Europeia perante o diktat norte-americano transformou a guerra na Ucrânia no acontecimento fatal para a comunidade.

A guerra e a maneira etnocêntrica, xenófoba e mistificadora como a União Europeia a encarou impondo sanções arbitrárias à Rússia, obedecendo a Washington convencida de que o mundo «iria atrás», funcionou apenas, afinal, dentro dos 27 e no universo muito limitado de países que compõem o chamado Ocidente – conceito que é um alter-ego dos Estados Unidos imperiais. O resto do mundo, cerca de 85 da população mundial, assumiu posições próprias, mais ou menos diferenciadas e desafiantes das ordens emanadas de Washington.

Ao mesmo tempo as sanções impostas à Rússia contribuíram para gerar outras consequências perversas, além do efeito de boomerang contra os povos dos países que as impuseram. As transformações no mundo com sentido multipolar foram aceleradas pelas novas circunstâncias; daí que seja possível observar como países de outros continentes, com maiores ou menores envergaduras económicas, se juntam em recém-criadas organizações regionais e transnacionais, algumas delas ainda embrionárias, harmonizando interesses próprios, abrindo novas vias de comunicação e de transporte, intercambiando matérias-primas, commodities e outros bens da economia real, tangível, tanto quanto possível à margem do casino financeiro de ambição globalista e do dólar cada vez mais contaminado pela financeirização e a dependência da economia virtual.

São relações novas ou ampliadas estabelecidas em condições mais equilibradas e igualitárias, livres de imposições de obediência e das obrigações desiguais próprias das relações até agora dominantes, de índole colonial e imperial.

A nova realidade emergente atrai cada vez mais países que estão a redescobrir a importância da soberania e se atrevem a desafiar o Ocidente como nunca o fizeram.

Na recente Cimeira das Américas, dirigentes de várias nações disseram ao presidente dos Estados Unidos coisas que ele jamais pensou ouvir; os países ribeirinhos do Mar Cáspio decidiram, em cimeira recente, reforçar a soberania regional, declarando as águas livres de navios da NATO; os presidentes do Irão, da Turquia e da Rússia acordaram modos de cooperação, sobretudo na Síria, que têm como objectivo trabalhar pela saída das tropas norte-americanas deste país, acabando assim com o roubo de petróleo; o presidente norte-americano foi à Arábia Saudita mendigar a redução dos preços do petróleo nos mercados internacionais, mas não passou de Jeddah e as suas súplicas não foram atendidas; ao invés, o encontro do ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, com os dirigentes da Liga Árabe, foi considerado um êxito. Entretanto, o artista da moda e chefe do regime nazi de Kiev não conseguiu pregar a sua homilia à cimeira do Mercosul depois de, há algumas semanas, ter sido escutado por apenas quatro dos 55 chefes de Estado da União Africana. Há realmente cada vez mais mundo para lá da Ucrânia e do Ocidente. E o New York Times já se «esquece» de falar da guerra da Ucrânia em algumas das suas edições.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante a visita desta a Kiev, a 8 de Abril de 2022, para acelerar o processo de adesão da Ucrânia à União Europeia  Créditos

O que resta?

Então o que resta, nestas circunstâncias, da defunta União Europeia? Ou mesmo da Europa, alargando o conceito à antevisão de Willy Brandt?

Observa-se, por exemplo, que a democracia é cada vez mais um invólucro desgastado de sistemas económicos e políticos com notáveis tiques ditatoriais.

Aliás no Leste europeu, desde a Polónia às Repúblicas do Báltico, tão acarinhadas pela NATO e a União Europeia, os regimes de índole fascista e xenófoba são indisfarçáveis. Na Letónia e na Estónia os cidadãos de origem russa são de segunda categoria, não podem votar, não têm direitos sociais, são párias na sua pátria. Zelensky não inventou nada. Como se percebe, foram instalados regimes de apartheid no interior da União Europeia sem registo de qualquer escândalo por parte da comunicação social corporativa, sempre tão vigilante e de dedo em riste.

«A guerra e a maneira etnocêntrica, xenófoba e mistificadora como a União Europeia a encarou impondo sanções arbitrárias à Rússia, obedecendo a Washington convencida de que o mundo «iria atrás», funcionou apenas, afinal, dentro dos 27 e no universo muito limitado de países que compõem o chamado Ocidente»

Então, para defender um regime nazi até às últimas consequências – que não se anunciam promissoras – a União Europeia decidiu «cancelar» a Rússia, isto é, prescindir das suas relações políticas e, sobretudo, económicas e comerciais com este país. E fê-lo numa ocasião em que Moscovo já decidira estrategicamente uma ancoragem prioritária com mira no Oriente, abrindo-se daí, ainda mais, para a Ásia, a África e a América Latina.

Quem ganha e quem perde com esta opção, que não é uma versão da história do ovo e da galinha?

Uma pergunta que os lunáticos de Bruxelas e das restantes capitais dos 27 não fizeram a si próprios antes de investirem com tudo (já só falta a bomba nuclear), e praticamente sem rectaguarda, contra a Rússia.

A Europa é um continente envelhecido, uma manta de retalhos que se vai cosendo por conveniência e apenas para imagem externa, um espaço de inércia crescente dominado por uma burocracia retrógrada apesar de digitalizada, mergulhado numa autoimagem arrogante e desligada da realidade mundial. Carece de produtos básicos de alimentação, de matérias-primas essenciais, da maioria dos recursos fundamentais estratégicos, sobretudo fontes de energia e de autonomia tecnológica, sector em que, no que toca a desenvolvimento e inovação, começa a estar a anos de luz não só dos Estados Unidos mas também, e principalmente, da Ásia. O que resta da indústria europeia é subsidiário e dependente do exterior.

A questão do abastecimento energético, porém, ilustra como nenhuma o delírio incontrolável de Bruxelas e da maioria dos seus satélites. Para prescindir do petróleo da Rússia, barato e há décadas calibrado para as necessidades europeias, a senhora Van der Leyen pratica mendicidade com países que maltrata e sanciona, como a Venezuela e o Irão, e promete soluções inexistentes a curto e médio prazo. Quanto ao gás natural, está disponível para comprá-lo em estado líquido aos Estados Unidos, em quantidades muito insuficientes e por preços quatro a cinco vezes superiores ao russo, apesar de ser produzido pelo método altamente poluente de fractura hidráulica (fracking). Para que haja uma noção do que aí vem anote-se que o gás natural estava a 200 dólares por mil metros cúbicos antes das sanções, situando-se agora entre os 1500 e 1800 dólares pelos mesmos mil metros cúbicos – sete a nove vezes mais.

Além disso, a presidente da Comissão Europeia assegura, com o ar mais solene deste mundo, que está para mais breve do que supomos a autossuficiência energética com moinhos de vento e painéis solares. Pode acrescentar-lhe a produção de gás resultante do tratamento de lixo, dejectos de passarinhos e suínos. Boa sorte com isso. À cautela, conhecendo muito bem a incompetência dos seus subordinados na Comissão e governos adjacentes, os patrões recomendam a restauração do funcionamento das centrais a carvão para tentarem refrear a hecatombe económica que começa a sentir-se, por exemplo, no gigante alemão. O combate às alterações climáticas, claro, pode esperar – aliás como sempre.

«A questão do abastecimento energético, porém, ilustra como nenhuma o delírio incontrolável de Bruxelas e da maioria dos seus satélites. Para prescindir do petróleo da Rússia, barato e há décadas calibrado para as necessidades europeias, a senhora Van der Leyen pratica mendicidade com países que maltrata e sanciona, como a Venezuela e o Irão, e promete soluções inexistentes a curto e médio prazo»

A Europa transformou-se numa aberração cultural, aceitou que as suas culturas com origens milenares fossem contaminadas e asfixiadas pelo pior dos exemplos, a plastificação dos ambientes criativos pelos mais medíocres centros norte-americanas de propaganda de um «way of life» postiço, estupidificante, monolítico. A «classe política» e a comunicação social corporativa recriaram-se nesse formato e as consequências estão à vista numa opinião única militarizada, hipnotizada pela violência, numa sociedade de vigilância, coacção e bufaria, num entretenimento idiota, alienante e intoxicante onde avulta a programação televisiva uniformizada de cariz preferencialmente alarve.

A Europa é provavelmente o único continente que não consegue ser autossuficiente do ponto de vista económico. Mas decidiu isolar-se agarrada ao capote do Tio Sam. No entanto, o espaço para funcionamento dos mecanismos coloniais já não é o que era à medida que a maioria das nações do mundo acordam para novas realidades de relacionamento; a invulnerabilidade militar já teve os seus dias; é cada vez mais difícil roubar os bens alheios: talvez o ouro da Venezuela e do Afeganistão, os fundos soberanos venezuelanos e as reservas cambiais russas sejam os derradeiros assaltos tolerados. E que, mais dia menos dia, terão resposta.

Os políticos europeus vocacionados para governar através de uma máquina de manipulação que erradicou na prática o pluralismo, o debate e o esclarecimento, recitam discursos vazios de conteúdo, carregados de promessas vãs, manifestam um ostensivo desrespeito pelas pessoas, pelo trabalho, pelos mais idosos; os comentadores tagarelam dislates, mensagens encomendadas, mentiras, quando não é pura propaganda terrorista; desdobram-se em delações e desfazem-se dos derradeiros resquícios de compostura e vergonha quando lhes oferecem uma guerra «civilizacional» – o que acontece em sessões contínuas.

A Europa, evidentemente, precisa muito mais da Rússia, país no topo mundial das matérias-primas, dos recursos naturais estratégicos e das reservas de energia essenciais, do que a Rússia necessita da Europa. Pode passar muito bem sem ela.

A Europa, porém, insiste nas sanções, condenando os seus povos a carências há muito não sentidas e, para isso, nem será necessário que Moscovo aperte muito o «torniquete da dor». Pela calada, para não perder a pose perante os seus, Bruxelas vai levantando algumas sanções, como a do comércio de titânio, ou então os aviões começariam a ficar em terra. As medidas avulsas, porém, não tocam no fundo das questões, apenas suscitam ainda mais desprezo por parte da Rússia e de muitos outros países para quem a União Europeia deixou de ser entidade «confiável».

As sanções à Rússia e o alinhamento na defesa de regimes nazi-fascistas europeus, caminho para a própria degeneração ditatorial, não são corriqueiros tiros nos pés. São armas de suicídio num caminho que não tem volta. Os tempos da velha e nobre Europa e da sua mítica e falsa União já lá vão. Agora o chamado «Velho Continente» não passa de um corpo estranho, um satélite mumificando em redor da estrela cadente do império.

Nem sequer pode desejar-se paz à sua alma. Alma não tem; e repudia a paz.

José Goulão, Exclusivo AbrilAbril

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